
No dia 25 de abril de 2018, embarquei em Guarulhos (São Paulo), em voo com destino à Lisboa. Cheguei em terras lusitanas na manhã do dia 26, com muita expectativa e várias dúvidas.
Depois de sete meses por lá, decidi que ali já não fazia tanto sentido, então fiz minhas malas e segui para o Reino Unido, onde estou atualmente.
Na semana que passou, em férias no Brasil, completei um ano desde que me despedi do país onde nasci.
Nesse meio tempo, aprendi muita coisa e gostaria de compartilhar com vocês…
Viver no exterior: vantagens e desvantagens
Uma das coisas pelas quais sou mais grato em relação a este período em que morei fora do Brasil foi a desconstrução da idealização de países europeus.
Obviamente, eu já assistia diariamente a conteúdo sobre os desafios que o Velho Continente enfrenta, como o envelhecimento da população, a pressão dos fluxos de imigração e refugiados e o avanço de movimentos nacionalistas, só para citar alguns.
Apesar disso, a gente ainda enxerga os países com aquela metáfora: “a grama do vizinho é sempre mais verde”.
Morando em Portugal e no Reino Unido, pude ouvir os relatos de residentes sobre a pressão nos serviços de saúde pública, por exemplo, que funciona com uma demanda acima do que o sistema efetivamente suportaria em níveis ideais.
Outro ponto positivo da vida no exterior é a vivência com diferentes culturas. Sendo a Europa muito diversa em um território relativamente pequeno, é muito comum o fluxo de cidadãos entre os diversos países do continente, especialmente dentro da União Europeia.
Com toda essa facilidade, não é difícil encontrar empresas com funcionários de dezenas de diferentes nacionalidades.
Obviamente, nem tudo é perfeito…
O clima pode ser um desafio importante. No Reino Unido, ao contrário de Portugal e do Brasil, o sol é artigo bem mais raro. Sair com alegria de um período com diversos dias cinzentos é meio complexo e nem todos lidam bem com isso.
A comida, mesmo em Portugal, é bastante diversa da do Brasil. Pode parecer bobagem mas os pratos típicos que você aprendeu a assimilar desde criança fazem falta. Também geram saudosismo os aromas, a cultura e a convivência diária com a língua portuguesa, que você não tem no Reino Unido e em outros países da Europa.
Por último, acredito que a sensação de solidão, que por vezes teima em te visitar, também é um grande desafio. Sentir alguma dor e não ter um familiar ou amigo por perto, querer sair e ainda não ter com quem fazê-lo e mesmo a impossibilidade de contar sobre seu dia para alguém. Tudo isso gera uma angústia vez ou outra e você precisará lidar com isso.
Brasil: impressões de lá e daqui
Quando saí do Brasil, como já comentei em diversos textos do blog, encarei aquela mudança como oportunidade, não como refúgio. Na ideia inicial, eu viveria lá por uns 2 anos e retornaria.
Com o tempo, surgiram novas experiências e eu acabei por considerar a nova empreitada como minha nova realidade. Sendo assim, parei de limitar em tempo aquilo que está fazendo sentido, tendo apenas uma lógica como gatilho para possível mudança de volta: se algum dia deixar de fazer sentido ou não mais me fazer bem, arrumo minhas malas, me despeço e retorno ao Brasil.
Uma coisa que reforçou esse tipo de conclusão é simples: os rumos que o país decidiu tomar.
É normal que se tome movimentos antagônicos quando se troca de governo, mas é muito triste quando se vê um governo que age como Dom Quixote, lutando contra os moinhos de uma ideologia que parece existir somente na cabeça deles.
É triste ver, nas férias no Brasil ou enquanto estou fora do país, uma imagem de país diverso, rico e amigo da natureza ser desmantelada e transformada naquela de um país sem rumo e que destrói tudo que pode em nome do lucro.
Outra decepção é ver a terra onde nasci e cresci nas mãos de pessoas que pouco entendem do brasileiro médio, que mora longe dos polos de riqueza, que perde mais da metade do dia fora de casa, é negros ou descendente de negros, vive em famílias muitas vezes com apenas uma pessoa como chefe de casa, geralmente uma mulher.
É lamentável observar um grupo de chefes de governo ignorar a diversidade de cores, etnias, formações afetivas, culturas e religiosidades (e não crença) que compõem a nossa nação.
Conclusões
Viver no exterior é fantástico, entre desafios e oportunidades que isto ofereça.
Seu país de origem, que você até então chamava de “a sua casa”, passa a ser UMA das casas.
Uma viagem voltando do Brasil envolve um “até logo” doloroso, mas seu coração também fica apertado quando vai ao Brasil e se despede momentaneamente de todos os novos laços afetivos do país atual.
Viver no exterior é um movimento de constantes desafios e mudanças, é ter mais de um lar, é ter amores geograficamente diversos e saudades múltiplas.
É também viver sempre com o coração sendo alimentado de novidades e aprendizado, mas saber domar aquele aperto que teima em aparecer quando você tem um dia mais solitário ou menos ocupado de tarefas.
É ainda aprender que a tecnologia aproxima aqueles que se amam, mas que isto jamais será tão próximo quando um abraço.
Apesar dos pesares, porém, meu querido leitor e minha querida leitora, vale muito a pena!
Arrivederci! 🙂