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Belfast: o que fazer na cidade natal do Titanic

Viagens26/02/2023

Ano passado, me propus um desafio: entre outras coisas, gostaria de visitar as capitais do Reino Unido que ainda não conhecia.

No mês de maio, visitei Edimburgo, capital da Escócia (em breve, teremos o roteiro por aqui); em agosto, foi a vez da capital da Irlanda do Norte.

Há muitas histórias sobre este país da porção norte da Ilha da Irlanda, que nem sempre são positivas, mas ninguém pode negar que por lá aconteceram muitas coisas que ajudaram a moldar o que hoje são o Reino Unido e a República da Irlanda.

Para entender um pouco disso, trago a seguir um resumo da relação da Ilha Esmeralda (Ilha da Irlanda) com o Reino Unido e os conflitos posteriores na Irlanda do Norte (os Troubles).

Por fim, trarei também o roteiro da viagem que fiz na Irlanda do Norte, em especial em Belfast, com todos os detalhes habituais.

Contexto histórico

A Grande Fome

O resumo a seguir contém informações adaptadas dos sites do Parlamento Britânico e do Museu da Grande Fome na Irlanda.

Entre os séculos XVI e XVII, os ingleses promoveram uma série de ataques e invasões que culminaram no controle da Ilha da Irlanda pela monarquia de Londres.

Sob Oliver Cromwell (1649-1653), foi promovida uma matança na região nordeste da Ilha Esmeralda por suas forças militares, com os irlandeses dali (em sua esmagadora maioria, católicos) sendo expulsos e forçados a se mudar para o oeste da ilha, em uma região mais rochosa e em que somente o cultivo de batata costumava ser possível.

As terras desocupadas em Ulster (nordeste da ilha irlandesa, onde temos Belfast) foram oferecidas a protestantes vindos da Escócia e da Inglaterra, como forma de incentivá-los a se deslocar das regiões de origem.

Entre outras coisas, isso ajudou para que os britânicos conseguissem formar uma grande comunidade de Unionistas, ou seja, de residentes leais à monarquia londrina.

Esta informação será importante no próximo tópico!

Posteriormente, os irlandeses católicos tiveram muitos dos direitos civis e, em certa medida, também a fé católica, cerceada pelos britânicos em seu território, em um período em que esta religião era seguida por cerca de 90% da população local.

Com o Act of Union, lei de 1801, o parlamento irlandês foi finalmente abolido e a Irlanda passou a ser totalmente controlada por Londres.

Um novo fungo que causava doença em batatas surgiu no meio do século XIX nos EUA, tendo sido posteriormente levado para a Europa sem que fosse percebido.

Em 1845, esta praga acometeu plantações de batatas pela Irlanda, afetando um grupo de cerca de 2/3 da população local (altamente dependente da batata na alimentação), principalmente aqueles anteriormente deslocados, que viviam em territórios em que era quase impossível produzir algo além disso.

O governo britânico, em uma tentativa de remediar a situação, tentou controlar o preço dos alimentos e gerar empregos através da construção de infraestrutura (ao invés de distribuir renda diretamente), o que se provou altamente ineficaz.

Outro fator que prejudicou muito os esforços foi a mentalidade muito religiosa da época, que considerava que aquela tragédia era causada por intervenção divina, para que os irlandeses aprendessem algo.

Limitação nas exportações de alimentos da Irlanda para a Inglaterra para distribuição aos afetados jamais foi considerada, o que gerou ainda mais insatisfação.

Em maior ou menor grau, a Grande Fome durou entre 1845 e 1852, matando cerca de 1 milhão de irlandeses e gerando um número muito maior de emigração.

Em 1921, após a chamada Guerra da Independência da Irlanda (1919-1920), representantes do Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda e da Irlanda assinaram o Tratado Anglo-Irlandês, que reconhecia 26 condados (dos 32 da Ilha da Irlanda) como pertencentes ao Estado Livre Irlandês, uma região autônoma no Império Britânico.

Em 1948, o The Republic of Ireland Act declararia o território como República da Irlanda, com um governo independente e capaz de controlar até as relações internacionais, encerrando o controle britânico naquela parte da ilha.

The Troubles

Com a invasão britânica à ilha irlandesa no século XVI e o deslocamento de católicos no nordeste do território para ceder espaço para os colonos britânicos (majoritariamente protestantes), além das restrições civis e proibição da profissão da fé aos seguidores da Igreja de Roma, a animosidade entre os dois grupos só piorou.

Na década de 1960, quando o território já estava dividido há algumas décadas em República da Irlanda (independente) e Irlanda do Norte (parte do Reino Unido), os conflitos entre nacionalistas (pró-Irlanda) e legalistas (pró-Reino Unido) se intensificaram.

Já existiam, inclusive, grupos paramilitares de ambos os lados. Entre os nacionalistas, o “Exército Republicano Irlandês” (no inglês, “Irish Republican Army”, IRA) era o principal; do lado legalista, grupos como Associação de Defesa Ulster (Ulster Defence Association, UDA) e Força Voluntária Ulster (Ulster Volunteer Force, UVF).

Em 1968, um protesto de trabalhadores católicos em Derry, na Irlanda do Norte, foi recebido com muita truculência pela polícia (protestante). Começaria aí o período extremamente violento que ficaria conhecido por Troubles.

Batalhas de rua se tornariam cada vez mais comuns a partir daí, principalmente de grupos de um dos dois lados atacando protestos feitos por forças do outro movimento.

Em 1969, por exemplo, ocorreram dois episódios bastante violentos, entre tantos, que são até hoje lembrados. Em janeiro, uma caminhada de católicos de Belfast até Derry foi atacada em diversos pontos do percurso por legalistas. A polícia, protestante, ignorou o máximo que podia.

Em agosto, em um episódio que ficou conhecido como Batalha de Bogside, uma caminhada também entre Belfast e Derry foi recebida com coquetéis Molotov e pedras por nacionalistas na cidade de destino, chegando ao fim apenas com o envio de tropas britânicas para o local.

As forças armadas e a polícia protestante pareciam ter um viés, por mais que o objetivo oficial fosse o de manter a paz.

Duas medidas truculentas, apenas para citar algumas, foram ingredientes para agravar ainda mais o conflito:

  • Em 1971, tentando conter a escalada na violência, foi instituída uma política de aprisionamentos sem julgamento prévio, o que gerou a prisão de centenas de membros do IRA.
  • Em um episódio conhecido como Bloody Sunday (“Domingo Sangrento”), um protesto de 15 mil nacionalistas em Derry foi recebido por legalistas e pelas tropas britânicas. As forças armadas, porém, atiraram em direção aos nacionalistas, matando 13 pessoas e ferindo várias outras. Anos mais tarde, descobriria-se que nenhum aviso prévio foi dado e não havia ameaça real que justificasse a medida.

Por outro lado, IRA e outros grupos paramilitares nacionalistas ficaram famosos por seus ataques terroristas, incluindo alguns fora da Irlanda do Norte, chegando à Londres.

Depois de múltiplos períodos de escalada de violência, grupos de ambos os lados, além dos governos do Reino Unido e da República da Irlanda, assinaram em 1998 o Good Friday Agreement (Acordo da Sexta-Feira Santa), um acordo que pela primeira vez reconhecia duas faces diferentes da situação:

  • Na Irlanda do Norte, a maioria da população desejava permanecer parte do Reino Unido;
  • E que certa parcela da população da Irlanda do Norte, além da maioria da república ao Sul, desejava uma Irlanda unificada.

Com este movimento, vários avanços foram assumidos, como a possibilidade futura de reunificação (se as maiorias de cada parte da ilha assim o desejassem) e o livre movimento (sem controle de fronteira) entre cidadãos de ambos os lados, só para citar alguns.

O acordo foi posteriormente validado em referendos na Irlanda do Norte e na República da Irlanda, começando a valer efetivamente em 1999.

Entre as medidas tomadas durante o período dos Troubles para conter os conflitos, uma que se vê ainda hoje são os peace walls (“muros da paz”), que dividiam vizinhanças adversárias na capital Belfast.

Muitas pessoas dizem que ainda hoje há pouca integração entre os grupos destes diferentes setores.

O resumo acima é muito simplificado. Para entender melhor, recomendo a leitura dos três textos principais (em inglês) que li para a criação deste conteúdo:

Por último, gostaria de deixar claro: o blog não tem opinião oficial sobre a questão. Espero, porém, que este texto ajude a entender o roteiro abaixo e um pouco das impressões que tive sobre a cidade.

Vamos ao passeio recomendado!

Atenção

A Irlanda do Norte tem fortes relações com a série Game of Thrones, tendo recebido gravações da obra em vários momentos. Por conta disso, contar sobre alguns dos lugares que visitei pode acabar trazendo pequenos spoilers. Esteja avisado antes de proceder!

Dia 1 (Tour pela costa + The Giant’s Causeway)

Para começar os passeios por Belfast e arredores, por mais incrível que pareça, saí da cidade e participei de um tour de ônibus, que começou nos arredores da capital e foi até o norte do país.

O tour que escolhi foi da Irish Tour Tickets e te conto mais sobre os pontos visitados a seguir. Antes, porém, vale ressaltar que não ganho nada com esta menção e cito o operador apenas por ter gostado do serviço, sem responsabilidade caso você decida contratá-los.

Carrickfergus Castle

Sob um céu azul, um caminho de concreto leva às ruínas de um castelo de pedra.
Carrickfergus Castle, em Carrickfergus, Irlanda do Norte.

A primeira parada foi no Castelo de Carrickfergus, uma edificação normanda que teve sua construção iniciada em 1177 por John de Courcy.

Por ter um importante papel militar, foi invadido por diferentes povos, incluindo os ingleses, escoceses e franceses.

Hoje, o espaço abriga exposições históricas, incluindo uma coleção de canhões.

Durante o tour, o motorista/guia explica um pouco sobre a edificação e seu papel, além de parar para tirarmos fotos de fora.

Carnlough Harbour

O pequeno Porto de Carnlough, que fica na vila de mesmo nome ao norte do país, ficou famoso com a série Game of Thrones. A vila foi transformada na cidade de “Braavos” na atração da HBO.

Por aqui, há cenas importantes com a personagem Arya Stark, como quando ela sai d’água se arrastando por uma escada daquele local.

É uma vila de maioria nacionalista, então você irá notar que por ali as bandeiras erguidas costumam ser as da República da Irlanda.

Cushendun / Cushendun Caves

Essa vila de menos de 200 habitantes é famosa pelas Cushendun Caves (Cavernas de Cushendun), também utilizadas em Game of Thrones.

Na cena passada aqui, a personagem Melisandre dá à luz a uma entidade importante na história.

Além disso, esta vila é famosa por ser um dos pontos no país que ficam mais próximos da Escócia, sendo possível ver um trecho da costa sul da nação vizinha em dias de horizonte limpo.

No passado, mesmo antes da vila, esta áre era ponto de navegação entre o sul da Escócia e o norte da Ilha da Irlanda.

The Dark Hedges

A área conhecida como The Dark Hedges é uma via ladeada com dezenas de árvore pomposas que formam uma espécie de túnel, projetando uma forte sombra no caminho. As árvores são da espécie Fagus sylvatica (popularmente conhecida como faia).

Por volta de 1775, James Stuart plantou cerca de 150 árvores para que estas servissem como um ornamento bacana para a entrada que levava à sua casa recém-construída.

Atualmente, cerca de 90 exemplares ainda estão de pé, mas algumas caíram recentemente, fruto de tempestades.

Este trecho ficou famoso por ter sido utilizado na série de Game of Thrones como a “estrada do rei” (kingsroad), o que causou um aumento significativo no número de visitantes.

Há também uma lenda que prega que por ali passeia o espírito de uma senhora (Grey Lady, ou “senhora acinzentada”), que seria a filha de James ou uma funcionária desconhecida.

The Fullerton Arms (ou “Fullerton Arms Ballintoy”)

Este local abriga tanto um bar quanto uma hospedaria.

A cidade de Ballintoy, onde está localizado, foi utilizada nas filmagens da série.

Ela foi utilizada para as cenas externas de Pyke, capital das Ilhas de Ferro (Iron Islands).

Em 2016, por conta da tempestade Gertrude, algumas árvores de The Dark Hedges foram ao chão.

O órgão de turismo da Irlanda do Norte decidiu, então, utilizar a madeira destas para a produção de 10 portas, cada uma representando um episódio diferente da temporada 6 da série.

Cada porta foi instalada em um pub diferente de cidades do país que foram utilizadas nas filmagens. A porta de número 6 está em The Fullerton Arms, acompanhada de um trono de ferro.

No vídeo a seguir, é possível acompanhar um pouco do processo e ver um mapa das outras localidades que receberam uma das 10 obras:

Relativamente perto deste pub (25 minutos de caminhada), há a Carrick-a-Rede, uma ponte de cordas originalmente erguida por pescadores de salmão em 1755. Suspensa a cerca de 30 metros de altura a partir do oceano, possui 20 metros de comprimento.

Esta ponte costumava estar incluída no tour, mas a National Trust, que cuida de patrimônios históricos por todo o Reino Unido, começou a restringir o acesso de tours de grupo. Desta forma, somente as visitas individuais (ou em pequenos grupos informais) são permitidas, a um custo de 13 libras por adulto. Os portadores do ingresso podem atravessar a ponte e também utilizar o estacionamento.

A ponte liga a ilha principal da Irlanda à pequena Ilha de Carrick-a-Rede.

Dunluce Castle

Uma área costeira, com o primeiro plano todo gramado, apresenta ruínas de um castelo de pedra à beira de um penhasco.
Dunluce Castle, na Irlanda do Norte.

Em uma rápida parada às margens do caminho que seguimos, vimos logo à frente o Castelo de Dunluce.

As ruínas deste castelo são da construção feita entre os séculos XVI e XVII, mas a história no local começa há mais de mil anos.

Erguido sobre uma ponta de rocha na borda da ilha, o acesso é feito por uma ponte.

Para quem quiser visitar seu interior, o ingresso custa 6 libras.

The Giant’s Causeway

Em uma área costeira, uma série de colunas hexagonais de rocha formam um penhasco.
The Giant's Causeway, na Irlanda do Norte.

A formação na costa norte da Irlanda do Norte impressiona pela sua imponência.

Com mais de 40 mil colunas de basalto, esta formação tem mais de 60 milhões de ano, tendo surgido de erupções muito antigas ocorridas em uma fissura geológica.

É o único local declarado Patrimônio Mundial da UNESCO na Irlanda do Norte.

Além das belíssimas formações rochosas, temos também um Centro do Visitante bem equipado, com café, estacionamento e uma simpática lojinha de souvenirs.

Há uma lenda muito divertida por ali. O nome “Giant’s Causeway” já entrega parte disso, sendo traduzido como “calçada/caminho do gigante”.

As histórias sempre envolvem estas criaturas, mas há diferentes versões. Em uma das mais conhecidas, temos o seguinte:

Havia na Irlanda do Norte um gigante chamado Finn McCool (ou Fionn Mac Cumhaill).

Em algum momento, um gigante na Escócia (Benandonner) teria ameaçado a Ilha da Irlanda, causando revolta em Finn.

O gigante irlandês decidiu, então, jogar várias rochas no Mar da Irlanda, criando um caminho entre seu lar e a Escócia.

Ao atravessar e chegar à Escócia, porém, percebeu que o gigante de lá seria bem maior do que ele, impossível de vencer.

Voltando correndo para casa, Finn conseguiu ajuda de sua esposa, que criou um disfarce para fazê-lo parecer um bebê.

Quando Benandonner chegou na Ilha da Irlanda, avistou aquele enorme “bebê” e pensou: se os bebês são assim tão grandes, ainda maiores seriam os adultos.

Benandonner seguiu em fuga de volta à Escócia e, na correria, destruiu o máximo possível do caminho, separando novamente as duas ilhas.

O que restou desta operação, você provavelmente adivinhou, é o Giant’s Causeway.

(Adaptado do site The Giant’s Causeway Tour)

O ingresso para adulto custa 13,50 libras, mas vale verificar caso vá com um tour em grupo, já que a entrada costuma já estar inclusa.

Quando o passeio terminou por ali, fomos novamente para o ônibus e seguimos direto para Belfast.

The Crown Liquor Saloon

Após a chegada à Belfast, querendo fechar o dia com alguma outra atração, resolvi conhecer o The Crown Liquor Saloon.

Uma joia do período Vitoriano, este local funciona desde 1826. Originalmente, era um “palácio de gin”. Hoje, porém, funciona como um pub.

Seus detalhes internos, assim como os da fachada, são de tirar o fôlego.

Por fora, um trabalho cheio de detalhes vitrificados e muitas cores; do lado de dentro, as múltiplas cabines de madeira esculpida e o teto vermelho todo trabalhado, além das lâmpadas de gás, são espetaculares.

O cobiçado espaço mantém sua imponência e continua a servir comida e bebidas de qualidade, atraindo muitos clientes todas as noites.

Dia 2

St George’s Market

Construído entre 1890 e 1896, ele hoje tem diferentes finalidades, dependendo do dia da semana. No domingo, quando visitei, ele mistura frutas e vegetais, antiguidades, artesanato e souvenirs.

Ele é, hoje, o mais velho mercado coberto Vitoriano da cidade, tendo passando por uma importante reforma entre 1997 e 1999.

Eu, particularmente, penso que seja uma experiência bem legal. Estes “mercadões” municipais são, desde que ainda fiéis à finalidade original, uma ótima forma de conhecer a cidade que o abriga.

St. Anne’s Cathedral

No lugar desta catedral, existiu antes uma igreja menor, doada pelo antigo dono das terras por ali, Lord Donegall.

Em 1895, porém, começou o projeto de construir uma catedral românica, que foi posteriormente consagrada à Santa Ana, avó materna de Jesus.

A construção propriamente dita começou apenas em 1899, em volta da igreja menor que existia ali, com os serviços religiosos continuando normalmente até 1903, quando a torre da igreja original foi removida.

Um dos pontos de destaque desta construção, ainda do lado de fora, é a enorme ponta metálica, semelhante a uma agulha, que surge verticalmente. Esta substitui as tradicionais (e pesadas) torres centrais. A razão disso é a formação do solo da cidade, com muita argila.

Ah! Esta catedral pertence à Igreja da Irlanda, uma igreja cristã irlandesa de vertente Anglicana.

Cathedral Quarter

Com seu nome emprestado do templo citado anteriormente, o “Quarteirão da Catedral” é uma área no centro da cidade que envolve uma série de ruinhas de pedra.

Nesta área, há vários antigos armazéns que hoje se tornaram bares, restaurantes, clubes e outras estruturas culturais.

Ah! Lembra das portas de Game of Thrones? A porta de Belfast fica nesta região, mais especificamente no bar e cafeteria Dark Horse.

Commercial Court

Parte do Cathedral Quarter, esta rua toda enfeitada abriga, além do Dark Horse, bar que acabei de citar, o pub Duke of York, um dos mais famosos da cidade.

As fileiras de bancos e a decoração toda caprichada tornam o lugar, geralmente lotado, ainda mais interessante.

Tour de grafites

Entre dois carros estacionados, vemos uma parede de tijolos vermelhos quase toda coberta com grafites em tons frios.
Alguns dos grafites de Belfast vistos durante o tour.

Um dos pontos mais interessantes do meu passeio pela cidade foi o tour pela arte de rua local (Street Art Walking Tour ).

Desde trabalhos de grandes proporções em empenas de prédios a intervenções pontuais em caixas de rede, é muito legal ver o estilo de cada artista responsável e a história que rodeia aquele trabalho.

De uma arte ilegal na cidade, os grafites hoje são celebrados, com um festival anual que reúne nomes de várias partes do mundo.

O tour que reservei é feito pelos próprios artistas locais, tendo como início e término o Commercial Court, mais especificamente a área em frente ao pub Duke of York.

Se quiser adquirir um ingresso, basta acessar o site oficial. Esta recomendação é voluntária, pois gostei da experiência. Avalie antes de adquirir o ingresso!

Um dos pontos que achei mais interessantes do passeio, com duração total de duas horas, foi quando passamos em frente ao pub The Sunflower (O Girassol). Antes conhecido como The Tavern ou The Avenue, este pub possui uma espécie de gaiola na porta, que foi introduzida após um ataque no período dos Troubles.

Por conta de sua localização próxima de um conjunto de apartamentos habitados por nacionalistas, era frequentado majoritariamente por católicos. No dia 15 de maio de 1988, às 2:20pm, atiradores da UVF conseguiram vencer um bloqueio da porta e atiraram nos clientes, matando 3 e ferindo 10.

Alguns anos antes, em 1973, um carro já havia explodido em frente ao estabelecimento.

Por ser o único pub/bar de Belfast a ainda manter a gaiola que protege a porta, este pub passou a ser mencionado sempre usando o “apetrecho” como referência.

Ulster Museum / Botanic Gardens

Aberto em 1929, o Museu Ulster é o maior da Irlanda do Norte.

Possui um acervo muito interessante, que passa pela Armada Espanhola, múmias egípcias, História Natural, Arqueologia e uma coleção muito interessante sobre os Troubles, evento que marcou o país por cerca de 30 anos.

Fratelli

Para finalizar o dia, aproveitei e passei no Fratelli, um restaurante italiano muito agradável, com porções generosas e uma equipe muito simpática.

Recomendo reservar antes, porém, já que não consegui visitá-lo na primeira tentativa.

Dia 3

Neighbourhood (café)

No caminho entre o hotel e as atrações do dia, resolvi parar neste simpático café bem em frente à Catedral de Santa Ana (que citei anteriormente).

O espaço é pequeno, mas a comida é saborosa e o clima é super agradável, com todo tipo de público.

Nuala with the Hula

Um dos monumentos mais famosos da cidade, esta escultura de metal tem 19,5 metros, tendo sido criada pelo escultor escocês Andy Scott em 2006.

Feita de aço inoxidável e bronze, ela apresenta uma mulher em cima de um globo, segurando um círculo.

Oficialmente chamada de Beacon of Hope (algo como “Farol da Paz”), acabou com vários apelidos.

A escultura feminina está sobre um globo, que teria o significado de paz e união. Ela segura um círculo de metal, o “anel da gratidão”.

The Salmon of Knowledge (The Big Fish)

Em uma área de passagem de pedestres à beira de um rio, temos uma pequena árvore e um peixe azul gigante, formado por inúmeros azulejos azuis e brancos.
The Big Fish, em Belfast.

Assim como Nuala with the Hula, “O Grande Peixe” fica às margens do rio Lagan.

Criado pelo artista irlandês John Kindness, que nasceu em Belfast, o “Salmão da Sabedoria” possui 10 metros de comprimento e é todo coberto por escamas azuis de cerâmica, cada qual com alguma imagem ou texto que conta um pouco da história da cidade.

SS Nomadic

Esta tender, uma embarcação de suporte para navios maiores, foi inaugurada em 1911 e pertenceu à mesma companhia que construiu e gerenciou o Titanic, a White Star Line.

Como uma embarcação de suporte focada no RMS Titanic e no RMS Olympic, ela servia para transportar passageiros, correspondência e suprimentos entre terra firme e embarcações maiores, que em alguns casos eram grandes demais para aportar em portos locais.

Ela foi restaurada e hoje está em exibição bem ao lado do Titanic Belfast, uma atração que apresento a seguir. É a única embarcação da White Star Line ainda existente, tendo sido criada por Thomas Andrews, o mesmo responsável pelo Titanic.

É possível visitar o interior do navio, com um custo de 10 libras por adulto. Se for do seu interesse, basta acessar o site oficial.

Titanic Belfast

Nos arredores onde antes havia sido projetado e construído o mundialmente conhecido Titanic e muitos outros navios em Belfast, hoje existe um prédio: Titanic Belfast.

Estruturado em um formato de museu interativo, a atração nos apresenta uma história bem completa de Belfast, uma cidade que foi uma potência, entre outras coisas, na produção de linho e, mais importante, um extenso complexo de produção de embarcações.

Nas instalações, você começa por estes anos gloriosos da cidade, passa por uma parte mais focada na embarcação que empresta seu nome ao local e termina em uma seção que explica o desdobrar desde o lançamento do Titanic até os desdobramentos após o naufrágio.

O ingresso para adultos custa 24,95 libras (na data de publicação deste roteiro), podendo ser adquirido no site responsável.

Samson and Goliath

“Sansão e Golias” são gruas portuárias, ou seja, são responsáveis pelo levantamento e movimentação de itens. No caso destas duas, são utilizadas na fabricação e manutenção de navios.

Samson tem 106 metros de altura e Goliath, 96. Por conta do passado forte de Belfast na fabricação de navios e por conta da imponência das duas gruas nos arredores do Titanic Belfast, elas acabaram se tornando grandes símbolos da cidade.

Curiosidade: juntas, elas podem erguer um total de 1700 toneladas.

CS Lewis Square

Esta praça, que pega emprestado o nome do autor de As Crônicas de Nárnia, possui 7 estátuas de bronze inspiradas na obra “O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa”, o primeiro da série.

É uma praça pequena e relativamente afastada do centro da cidade, mas pode ser uma boa pedida para os fãs do autor.

Curiosidade

Se você andar pela Newtownards Road e outras vias das adjacências, verá uma série de símbolos e grafites de cunho unionista.

Extras

Como em muitas viagens que já fiz anteriormente, há sempre aquilo que não consigo visitar por falta de tempo, por incompatibilidade com os dias de abertura do estabelecimento ou, ainda mais aleatoriamente, por fechamentos temporários para reformas e outros motivos.

A seguir, apresento algumas atrações e passeios que não puderam ser contemplados, mas que eu definitivamente incluiria em um futuro momento na cidade.

HM Prison Crumlin Road (ou “Crumlin Road Gaol”)

Aberta em 1846, este complexo prisional encerrou suas atividades originais em 1996.

Em 1991, após um ataque à bomba pelo grupo Provisional IRA (um grupo que surgiu a partir de membros que deixaram o IRA original) à ala legalista da prisão, dois prisoneiros unionistas morreram.

Hoje em dia, há tours guiados de cerca de 90 minutos, que contam histórias desta que é a última prisão Vitoriana ainda de pé na Irlanda do Norte. Parece ser muito interessante!

Para mais detalhes, visite a página oficial.

Curiosidade

Logo em frente a esta prisão, funcionava um tribunal local. Entre os dois prédios, há uma passagem subterrânea, usada antigamente para o transporte de presos.

Black Taxi Tours

Um dos tours mais famosos da cidade, os passeios nos “táxis pretos” costumam envolver rotas pelos murais políticos de Belfast, além de monumentos e locais marcantes.

Há itinerários de diversos temas, mas aqueles que cobrem um pouco do que ocorreu durante os Troubles são os mais famosos.

Como há várias empresas que prestam o serviço e não fiz o tour, prefiro não indicar uma empresa específica.

Belfast City Hall

Este prédio de estilo neobarroco é de uma beleza estonteante, tendo sido aberto ao público em 1906.

Ele funciona como sede municipal e tem uma série de áreas que normalmente não são acessíveis ao público, mas que um tour guiado oficial apresenta a todos.

O tour é oferecido de graça (doações são voluntárias), sendo preciso chegar no dia e tentar disponibilidade. Para os horários e dias de funcionamento, basta acessar o site.

Onde se hospedar

Na ocasião da minha visita, acabei optando por ficar no Jurys Inn Belfast, na Great Victoria Street.

A localização é ótima, sendo próximo do The Crown Liquor Saloon, do ponto de partida do tour pelo litoral da Irlanda do Norte e a uma curta distância de caminhada até outras atrações.

No momento da escrita deste texto, vi que ele foi renomeado e hoje é chamado de Leonardo Hotel Belfast, da rede de mesmo nome.

Como chegar à Belfast

Por ficar na Ilha da Irlanda, há acesso por via terrestre via Dublin e outras cidades principais da República da Irlanda.

Além disso, há dois aeroportos na cidade: Belfast City Airport, mais próximo do centro da cidade, e Belfast International Airport, que foi por onde cheguei quando visitei o país.

Este último é meio distante da cidade em si, mas há ônibus atendendo o percurso até a capital. Em feriados ou horários mais específicos, vale chamar um Uber.

Mapa do tesouro

Conclusão

Belfast é classificada por muitos como uma cidade que parou no tempo e tem energia dos anos 70.

Este resumo é injusto, mas é impossível negar que a cidade carrega marcas do passado.

Dos grafites de cada lado dos Troubles a prédios de diferentes períodos históricos, a capital da Irlanda do Norte deixa uma marca em cada visitante que chega.

Na minha humilde opinião, é um destino imperdível para quem conhecer a Ilha da Irlanda e o Reino Unido além do óbvio.

Até a próxima! :)


Imagem de destaque:
Nuala with the Hula, um dos símbolos de Belfast.
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