Hoje eu gostaria de te convidar para um passeio por Rye, uma pequena cidade com ar medieval e quase 5 mil habitantes no distrito de Rother, condado de East Sussex, no Sudeste da Inglaterra.
Ela é considerada por muitos como uma das cidades medievais mais bem conservadas de toda a Inglaterra. Passando um dia por lá, pude ver que a afirmação não está longe da realidade.
Rápida introdução histórica
Você pode estar me perguntando: o que tem de tão importante em uma cidade pequena como essa?
Pelas diferentes histórias que envolvem a cidade e por seu contexto importante para o país, uma visita por aqui rende boas descobertas.
No passado, Rye e mais quatro comunidades na região fizeram parte do grupo Cinque Ports (“Cinco Portos”, da língua normanda), um grupo formado devido a interesses militares e de comércio.
Por ficar na porção da costa inglesa mais próxima da França, a área era estratégica para a nação.
Se a localização era estratégica, era também uma das razões para que o contrabando fosse uma atividade forte por ali, com alguns dos prédios abrigando passagens secretas para os que tinham os escambos ilegais como profissão. Daqui a pouco te conto sobre um destes casos!
Roteiro
Logo na estação de Rye, comecei minha visita no Café des Fleurs, um simpático café e floricultura.
Com um cappuccino em mãos, segui para Strand Quay, uma área da cidade com várias lojas de antiguidades, artigos antigos para casa e colecionáveis.
Ali, entrei na The Quay Antiques & Collectables, um estabelecimento com chão de pedra e muitos itens antigos, indo desde capacetes de soldados de guerras passadas a itens de decoração e brinquedos.
Fica também por ali o Rye Heritage Centre, que abriga a história da cidade, um modelo em miniatura de seus prédios e algumas informações turísticas. Por conta da pandemia, este local está provisoriamente fechado.
Não distante dali está o Mermaid Street Café, com um gelato disputado pelos turistas.
Logo em frente, a The Confit Pot chama a atenção pela beleza de seus produtos. Confit pots, seu principal item à venda, são vasos de cerâmica com um revestimento vítreo do topo até a metade.
Típicos da França, “confit pots” eram muito utilizados para conservar carne cozida imersa em gordura, seja de pato, porco ou ganso. Eram revestido com uma camada vítrea somente na parte superior, já que a parte de baixo era enterrada no solo frio para ajudar na conservação. Desta forma, era possível preservar alguns tipos de alimento para consumir durante o inverno.
Seguindo em frente, entrei na Mermaid Street, talvez a rua mais famosa da cidade. Toda revestida em pedrinhas arredondadas e repleta de construções muito bem conservadas, é a via que cumpre melhor a expectativa de um “vilarejo” medieval.
Por falar nos tempos da Idade Média, é nesta rua que fica o The Mermaid Inn, um pub e hotel que completa em 2020 seus 600 anos de história. O porão foi construído por volta do ano de 1156, com o restante do prédio tendo sido reconstruído em 1420.

Atravessando um vão ao lado do The Mermaid Inn e seguindo por uma rua estreita, avista-se o The Old Bell Inn (antigamente chamado de Ye Olde Bell Inn), que se intitula o mais antigo pub da cidade. Com construção em 1390, sua história é bem peculiar.
No passado, foi usado por contrabandistas. Tinha um túnel secreto que o conectava com o The Mermaid Inn, facilitando o transporte de produtos de lá para The Old Bell, que contava com um armário giratório para facilitar a fuga. Diz-se que o local foi muito utilizado pela Hawkhurst Gang, grupo contrabandista que atuou entre 1735 e 1749 no Sudeste da Inglaterra.
Dando prosseguimento, fui até St Mary’s Church, uma igreja cuja construção se iniciou no começo do século XII. De sua torre, tem-se uma visão privilegiada da cidade, já que ela está no topo da colina onde Rye se encontra.
Além disso, um fato interessante é a quantidade de túmulos em volta da igreja, dando um ar bem peculiar para a construção.
Logo após a igreja, um dos pontos de destaque é a Ypres Tower, uma torre construída no século XIII a mando de Henrique III com o intuito de ajudar na proteção contra invasões de franceses. Entre vários usos, foi também uma prisão, tendo como um dos mais famosos prisioneiros John Breads, um açougueiro que matou o então vice-prefeito da cidade, Allen Grebell, por esfaqueamento. A morte foi, na verdade, um equívoco, já que o açougueiro queria se vingar na verdade do prefeito, que o havia condenado alguns anos antes por fraude contra clientes. Se e esse vice não foi azarado, não sei quem é!

Outro ponto interessante para quem gosta de arquitetura antiga é o Landgate, um arco com relógio e duas torres que também foi construído no passado para proteção da cidade.
Logo nas proximidades, o The Waterworks Micropub chama a atenção por dois motivos: o tamanho diminuto e seu passado como uma casa que abrigava o bombeamento de água da cidade.
Para finalizar, um ponto bem diferente que visitei foi o Camber Castle. Para chegar até lá, porém, há uma caminhada de cerca de 30 minutos.

Para mim, isto não foi nenhum problema, já que a caminhada é majoritariamente por pastagens onde você caminha rodeado de ovelhas. Um detalhe importante: há porteiras no percurso e você pode abri-las (e fechá-las, claro) normalmente, sem ter de avisar ninguém.
O acesso ao interior do castelo é feito com guia, mas dá pra ver bastante coisa a partir da parte de fora.
Este tipo de passeio em áreas de campo aberto é muito comum aqui no Reino Unido, especialmente para aquele tempo após um almoço caprichado de domingo. É super comum que famílias inteiras saiam para uma longa caminhada, especialmente no interior,.
Extras
Há alguns pontos que podem ou não fazer parte do roteiro, dependendo do gosto do visitante.
Um dos pontos fortes da cidade, por exemplo, é o grande número de lojas de antiguidades e produtos clássicos para a casa, além de artesanato. Se você gosta deste tipo de item, não deixe de conferir o Crocky & Cosy, cheio de itens para a casa com uma pegada bem mais antiga.
Indo novamente em direção à Mermaid Street, você pode conferir a Lamb House, um museu onde antes foi a casa do romancista Henry James. Há ali uma coleção de vários itens, incluindo sua antiga mesa de trabalho. Por conta da epidemia, porém, este local estava fechado.
Para quem for com crianças e gosta de desafios e mistérios envolvendo o período medieval e bruxos, há The School of Wizards and Witches, com atividades lúdicas e desafios.
Em outro período, em que mais estabelecimentos estiverem funcionando novamente, vale a pena passar ainda pelo Rye Castle Museum, localizado na East Street. Ali funciona um pequeno museu sobre a cidade onde antes existia uma fábrica de garrafas de cerveja. Abre aos fins de semana!
Já para quem curte natureza, duas opções bem próximas entre si e muito frequentadas são a Rye Harbour Natural Reserve, uma área alagada já na região da costa, e Camber Sands, uma extensa linha de praia. Há ônibus a partir do centro da cidade!
Onde se hospedar
Há muitas opções de hospedagem pela cidade, entre B&Bs (cama e café da manhã) e hotéis tradicionais. Embora a cidade não demande mais de um dia, pode ser interessante dormir por lá caso você queira visitar outras cidades da região.
Entre as diversas opções, uma que me deixou particularmente interessado foi o The Mermaid Inn (que já mencionei no texto), cujos quartos possuem um estilo bem antigo, inclusive com camas esculpidas em madeira em alguns deles.
A outra opção que eu utilizaria seria o Rye Windmill B&B, que tem a estrutura de um moinho de vento.
Como chegar a partir de Londres
Uma das formas mais fáceis de se chegar até lá é através de trem, em percurso que demora pouco mais de uma hora.
No meu caso, minha viagem começou em St Pancras International (mesma estação que recebe trens de Amsterdã e Paris). De lá, meu percurso incluía trajeto até a estação Ashford International, onde eu troquei de trem e segui percurso até Rye. Tudo no mesmo bilhete. Para adquiri-lo, você pode utilizar o site da National Rail, que administra as ferrovias britânicas.
Mapa do roteiro
E é isso! Espero que tenha gostado do roteiro de hoje.
Se você me perguntar se valeu a pena, com certeza direi que sim! Apesar disso, avalie com cuidado antes de ir. É uma cidade muito simpática e bem cuidada, mas não é para todos os públicos. Seu número restrito de atrações (é uma cidade pequena) pode frustrar algumas pessoas.
Se ficou alguma dúvida, já sabe, é só me avisar nos comentários.
Até a próxima! 🙂
Imagem de destaque: