Olá!
Hoje eu gostaria de falar um pouquinho sobre as experiências que tive até aqui como desenvolvedor de software.
De uma forma resumida, quero compartilhar um pouco do que percebi até aqui da cultura das empresas de Tecnologia da Informação (TI) no Brasil, em Portugal e no Reino Unido.
Nota: A ideia do texto de hoje veio após ler este post do perfil “Direito no Exterior” no Instagram. O perfil é mantido por Letícia Bittencourt, uma profissional de direito conectada com os Direitos Humanos e minha conterrânea. Recomendo acompanhar as postagens dela!
Em 2014, quando defendi a dissertação do mestrado e ingressei no primeiro emprego como desenvolvedor de software, tive a oportunidade de experimentar um pouco das vantagens e desvantagens de se trabalhar com TI no Brasil, sobretudo na capital de São Paulo.
De um modo geral, por ser uma área que demanda muitos profissionais e sofre com escassez de talentos, o profissional contratado consegue uma valorização mais acentuada do que a média.
Eu tinha acesso a um horário flexível, certa facilidade para agendar folgas descontadas do banco de horas e não tinha uma rotina tão engessada quando profissionais de áreas mais tradicionais.
Por outro lado, a cultura brasileira de muitas empresas ainda estava presente, seja no uso do relógio de ponto ou no hábito de acumular horas e horas de trabalho além do expediente normal.
A pressão por resultados é grande, produzindo dois efeitos: um desenvolvimento pessoal e profissional acentuados, mas também um desgaste bem maior.
Fora isso, temos uma legislação bastante engessada em relação a férias e outros aspectos do cotidiano de trabalhadores.
Isso gera problemas caso você queira distribuir suas férias de uma maneira mais flexível durante o ano ou deseje trabalhar de casa, por exemplo, mas também protege o trabalhador de uma cultura empresarial que, infelizmente, ainda conta com algumas empresas com uma cultura bastante exploratória.
Quanto a benefícios, o normal é que se tenha o padrão da legislação: 12 salários anuais, mais um terço para férias e um salário extra no segundo semestre — o amado 13º salário. Fora a remuneração direta, não é incomum que se tenha vale-transporte (com ou sem desconto do salário), vale-refeição, seguros de saúde, odontológico e de vida.
A remuneração em TI tende a ser acima do comum para a maioria das áreas, mas isso depende muito da cidade, da empresa e da área de trabalho. Desenvolvedores, gerentes de projeto e carreiras similares costumam receber um valor mais bonito no holerite.
Após um segundo emprego em TI no Brasil, me mudei para Portugal e experimentei um pouquinho do tempero lusitano no mercado de trabalho.
A empresa possui sede em Portugal, mas era financiada e gerida por europeus de outros países.
Isso fez com que tivéssemos uma cultura um pouco diferente, sem relógio de ponto, sem horário fixo e uma relação na base de confiança: se precisar sair para resolver algo, avise e vá; se precisa chegar mais tarde e sair mais tarde, tudo bem; se precisa trabalhar menos hoje e repor as horas aos poucos, okay também.
A realidade de empresas puramente portuguesas, porém, tende a ser diferente. O uso de relógio de ponto é frequente, a carga horária raramente é respeitada e há uma cultura de que trabalhar mais horas é um ponto positivo, de um funcionário esforçado.
O ambiente de trabalho lusitano, assim como no Brasil, frequentemente desvaloriza a mão de obra feminina, refletindo financeiramente contra o esforço das profissionais.
Especialmente em Lisboa e no Porto, temos um número grande de empresas multinacionais abrindo escritórios por lá. Entre os diversos atrativos, estão os custos menores com salários de funcionários e algumas políticas governamentais para atração de investimento.
A remuneração padrão é de 14 salários anuais, sendo 12 regulares, um subsídio de férias e um subsídio de natal. O vale-refeição não é padrão, mas costuma ser pago em empresas mais modernas. Fora isso, o resto dos benefícios a que se tem costume no Brasil não é realidade comum na terra de Camões.
A média salarial é uma das mais baixas da União Europeia, mas o custo de vida em Portugal é relativamente baixo. Se você mora na região de Lisboa, porém, pode preparar os bolsos: os preços dos aluguéis (aluguer, para os portugueses) estão estratosféricos.
Depois de um período de cerca de sete meses em Portugal, recebi uma oferta do Reino Unido e me mudei para cá.
A realidade do mercado de TI em Londres (e no Reino Unido, de forma geral) é bem diferente.
Nas ofertas de trabalho, a primeira diferença: o salário é descrito no montante anual, sendo geralmente pago em parcelas iguais todos os meses.
Por regra, não há qualquer outro tipo de salário durante o ano. Talvez um 13º salário? Esquece!
As férias podem ou não ser remuneradas. Aqui, porém, é importante levar um fator em consideração: “férias remuneradas” não são sinônimo de renda extra, mas de que os dias ausentes por férias não serão descontados do salário mensal.
Vale-refeição, vale-transporte e outras iniciativas similares também não são uma cultura comum. Se você tem gastos altos com isso, faça as contas e adicione esse valor na negociação salarial antes de aceitar uma oferta.
Transporte público, aliás, não é muito barato, assim como o custo de vida em geral, principalmente em Londres. Ganha-se mais, mas também gasta-se mais.
Não é comum relógio de ponto, pelo menos nas empresas de TI. Você trabalha em média 40 horas semanais, tem certa flexibilidade de horário e não raramente tem acesso à possibilidade de work from home (trabalhar de casa).
Não é comum que se trabalhe muitas horas além do expediente. Quando isso acontece, você pode ou não ser remunerado, mas é só em último caso. Por padrão, considera-se que um equilíbrio entre vida pessoal e profissional são essenciais para um funcionário produtivo e que entrega qualidade em seu trabalho.
O cenário acima, que aparenta ser bastante solto e menos assistencialista, poderia ser problemático em alguns contextos. Por aqui, porém, a cultura de respeito e proteção aos funcionários é bem forte.
Há uma legislação no Reino Unido, o Equality Act 2010, que retrata bem isso. Ela busca implementar igualdade de tratamento e respeito entre as pessoas no ambiente de trabalho, focando principalmente em temas sensíveis, como igualdade de gênero, questões raciais, de crença religiosa e orientação sexual. O texto pode ser consultado aqui (em inglês).
Diante das informações apresentadas aqui, porém, é importante ter uma coisa em mente: não há realidade melhor ou pior entre as apresentadas. O único intuito é mostrar algumas curiosidades e particularidades entre os países.
Cabe a cada um, diante destas informações, decidir qual é mais compatível com seus objetivos e sua situação.
Arrivederci! 🙂
Imagem de destaque: