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Crianças e o poder das palavras e do exemplo

Reflexões07/07/2019

Hoje eu gostaria de conversar contigo sobre algo que tem me inquietado bastante: o que a sociedade tem feito com suas crianças?

Não, não vou falar sobre o poder da mídia e o perigo da propaganda focada nas crianças, por exemplo. Isto já renderia várias textos.

Quero falar com você, em primeiro lugar: já parou para pensar no poder que suas palavras podem ter no futuro de uma criança?

Não quero (nem posso) falar como um especialista. Longe de mim fingir ter uma base de estudos que jamais passou pelos meus livros.

O problema que quero abordar hoje vem do olhar de uma ex-criança. Como todo adulto de hoje, já fui uma criança criativa e nutri uma dúzia de sonhos. Sonhar no mundo de hoje, porém, ainda é muito desgastante.

Me lembro de ter ouvido várias vezes de amigos, conhecidos, colegas de escola e até familiares palavras que pareciam inocentes, mas que no fundo diminuíam minha crença no Adriano do futuro.

Não raramente, quando eu citava alguma coisa que sonhava fazer, seja um intercâmbio ou mesmo um curso novo, ouvia algo como:

Não gaste dinheiro à toa! Aposto que não aplicará o que se aprende no curso!

Isso é pra quem nasceu em berço de ouro. Não se iluda!

Só pode estar à toa para inventar tanta moda!

A lista não para por aí, mas as frases seguem uma mesma receita: não tente! Você não pode sonhar tão alto!

Não tratava-se de sonhos impossíveis, tampouco de algo que eu não pudesse fazer. Era mais uma questão de uma mente já adulta, ás vezes cheia de medo e sempre com zelo, tentando proteger uma criança de decepções.

É claro que nós temos que ter em mente aquilo que falei no texto sobre privilégios e sobre como aceitar que há diferentes níveis de esforço para um mesmo sonho, dependendo dos obstáculos extras que alguém terá de enfrentar por conta de preconceitos e outros vícios da sociedade.

Apesar disso, nós precisamos evitar colocar as crianças em redomas de vidro, protegidas de toda decepção e, consequentemente, sem experiências de frustração, autoavaliação e medo.

Se algo está longe do alcance de um menino ou uma menina hoje, tente incentivá-lo para pelo menos dar um passo possível atualmente na direção daquilo que ele(a) quer.

Se uma menina gosta de jogar futebol e você não pode pagar uma escolinha particular, por exemplo, incentive-a a participar das aulas de educação física ou de entrar nas turminhas de futebol do bairro (se na sua cidade isso for possível).

Só não diga que um pequeno não é capaz.

Sei que é fácil falar isso quando não se enfrenta seis horas de transporte público por dia entre casa, trabalho e casa; mas não me leve a mal. Entendo que todos temos, em algum nível, nossos próprios desafios, mas se hoje estiver muito complexo e difícil e seu filho te contar sobre algum sonho que ele tem, por favor, sorria e peça para que ele explique melhor sobre aquilo.

Junte-se a ele e veja até onde a imaginação o levará. Se naquela primeira tentativa não ocorrer algo como o planejado, ele pelo menos aprendeu o que precisa ser vencido para que o sonho se torne mais próximo.

Se você disser a ele para que “esqueça isso”, porém, ele carregará uma marquinha deste dia para sempre.

Me lembro de várias vezes ter me sentido inseguro e acabar desistindo de várias coisas que gostaria de fazer. Por mais que futuramente tenha conseguido realizar vários destes sonhos, um desincentivo assim poderia ter me direcionado para uma carreira infeliz, para uma vida de arrependimentos por não ter aproveitado as alegrias que me eram possíveis ou mesmo gerado traumas psicológicos.

Acho que no fim das contas, afinal, a gente deve ter em mente o seguinte:

As crianças precisam ter limites quanto a mimos e mau comportamento, jamais em seus sonhos.

E você, o que acha de tudo isso? Conte pra mim!

Arrivederci! 🙂


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