Quando eu ainda morava no Brasil, me lembro de pensar na Europa por conta de sua importância na história, principalmente se pensamos no Ocidente.
A ideia de um continente em que alguns países focavam no Estado de bem-estar social como política principal também me gerava interesse, mas tudo isso ainda parecia algo muito distante.
Com tudo o que foi acontecendo, porém, me mudei para o exterior, passei por Portugal e agora estou em Londres. Que jornada!
Tentando esclarecer e desmistificar um pouco da imagem que nós brasileiros geralmente temos sobre a capital britânica, gostaria de trazer um pouco do que tem sido a minha experiência por aqui.
Pontos positivos

Boa conectividade
Como as outras principais cidades da Europa, Londres possui uma boa conectividade com o restante do continente, com seis aeroportos principais: London City, London Gatwick, London Heathrow, London Luton, London Southend e London Stansted. Com as companhias aéreas de baixo custo operando na cidade, viajar para outros países do continente não é algo proibitivo.
Além do transporte aéreo, tem-se ainda o acesso ferroviário, que se dá principalmente pela estação de trem St. Pancras Internacional. Há linhas que conectam diretamente (ou com uma mudança) a terra da rainha com a Bélgica, a França e os Países Baixos (Holanda, para os mais íntimos), por exemplo.
Museus gratuitos

Embora não seja exclusividade de Londres, já que outras cidades daqui também oferecem o benefício, o fato de que muitos museus e galerias possuem acesso gratuito é um elemento que me proporciona satisfação em morar aqui.
Gostou disso? Confira mais informações sobre museus gratuitos em Londres.
De arte moderna ao Renascentismo, de História Natural à história das guerras, há sempre algum museu ou galeria sobre o assunto por aqui.
Pluralidade étnica
Londres possui mais de 35% da população de pessoas não nascidas no Reino Unido, ou seja, são pessoas vindas de outros países da Europa ou de várias outras partes do mundo.
Se você quer se conectar com brasileiros, chineses, japoneses, portugueses ou qualquer outra nacionalidade, são grandes as chances de que encontrará alguém por aqui.
Isto, obviamente, se reflete na comida. Seja um restaurante etíope, brasileiro, chinês ou peruano, só para citar alguns, não faltarão opções na hora que sua barriga der um rugido.
Hub de empresas
Para profissionais de maior qualificação, em especial de Tecnologia da Informação, Finanças e outras áreas com forte apelo econômico, Londres é um mercado que oferece um número generoso de vagas.
Pode ser que demore um pouco para achar algo com a sua cara, mas aqui é definitivamente um dos lugares em que se tem mais chance de que isso aconteça.
Todo índio encontra sua tribo
In London nobody is alike, which means everyone fits in*. — (Paddington, O Urso)
* Tradução livre da frase acima: Em Londres, ninguém é parecido, logo, todos se encaixam aqui.
Além de abrigar pessoas de diversos países, a capital britânica é um caldeirão de diferentes grupos (“tribos”, para quem já tem mais de 30 anos).
Quem é alternativo vai para Shoreditch; quem é roqueiro, Camden Town; a turma do gourmet desce em Covent Garden; os fãs de compras, correm para Oxford Street e o pessoal da muvuca vai para todo o centro de Londres mesmo.
Curte um mercado “vintage”? Brick Lane Market pode ser a sua opção.
Vida noturna forte e variada
De musicais e pubs a baladas bem diferentes, a capital britânica tem opções para todos.
Para quem é fã de cerveja, há pubs dos mais diversos tipos. Há, inclusive, algumas opções temáticas, como um que simula um escritório de detetive.
O teatro é outro carro-chefe daqui. Há musicais da Broadway importados, trabalhos independentes e peças tradicionais.
Veja aqui uma seleção de alguns dos musicais que eu já assisti e recomendo!
Pontos negativos
Como toda experiência pessoal, vale levar em consideração que muito do que escreverei aqui vem de coisas que eu fui percebendo, não representando o que todos vivem por aqui.
Transporte lotado
Londres tem uma rede de transporte público extensa como outras no mundo, mas que precisa atender quase 9 milhões de habitantes, além de turistas e demais visitantes.
Isto se traduz, muitas das vezes, em ônibus e vagões lotados, com falhas pontuais só piorando a situação.
Conheça um pouco sobre o metrô de Londres
Violência
Para quem está acostumado com o padrão da violência nas maiores cidades do Brasil, os índices por aqui estão longe do que geraria preocupação, mas a percepção em muitas partes da capital não é de uma cidade super segura.
Além dos pickpockets, os tradicionais ladrões de carteira que se pode encontrar em praticamente todas as grandes cidades da Europa, esfaqueamentos pontuais pelas ruas são um dos exemplos de coisas que mais geram preocupação nos residentes.
Para entender melhor sobre a violência por aqui, trago aqui alguns números que o The Guardian divulgou sobre o ano de 2019: embora tiros de arma de fogo tenham sido a causa de “apenas” 12 casos de homicídio em 2019 (em 2014, foram 4), os casos demorte causada por stabbing (esfaqueamento ou uso de outros objetos perfurantes) foram de 55 para 90 no mesmo intervalo. O total de homicídios foi de 149 em 2019 (até 30/12).
Clima “ruim”

Para quem tem o bom humor regulado pelo nível de incidência solar, infelizmente, Londres pode não ser a sua melhor opção. Consultando o site WeatherOnline, por exemplo, vê-se que entre janeiro e dezembro de 2019 teve-se um total de quase 1500 horas de luz solar (e uma média de 4,2 horas por dia).
Superlotação
Londres recebeu, em 2018, cerca de 19,09 milhões de turistas estrangeiros, como cita pesquisa da Mascercard trazida pelo The Independent.
Por um lado, este número prova que a cidade é interessante e consegue atrair muita atenção no cenário mundial, mas isto também significa que todo e qualquer monumento ou estabelecimento mais famoso da cidade está quase sempre abarrotado de gente.
Dependendo do horário do dia, não é um problema grave, mas um passeio pela Oxford Street para comprar peças de roupa nas inúmeras lojas da área, só para citar um exemplo, pode gerar um stress hercúleo.
Pesa no bolso
Embora tenha museus gratuitos e uma infinidade de parques, Londres é uma cidade em que restaurantes, atrações culturais e vida noturna são bem caras.
Não é que seja algo surpreendente, já que grandes cidades possuem custo de vida mais alto, mas os preços aqui não são dos mais acessíveis.
Outro fator relacionado a custos fica por conta dos aluguéis. Como comentei por aqui no texto sobre zoneamento do transporte público, a cidade é dividida em “círculos” que alteram o valor cobrado nas tarifas de transporte. Quando você atravessa zonas, por exemplo, a viagem fica mais cara.
Os aluguéis nas zonas 1 e 2, mais próximas do que se conhece como centro da cidade, são muito caros. Por outro lado, a partir da zona 3 é possível encontrar um aluguel mais aceitável, mas aumentando o tempo de viagem até as áreas da cidade onde estão a maioria dos postos de trabalho.
Com isso, o aluguel mais barato transforma o trajeto casa-trabalho-casa mais caro, pois você fará um percurso mais longo de metrô, por exemplo (cruzando mais de uma zona de tarifa).
Conclusão
Como podem ver, Londres é uma cidade rica em cultura, entretenimento e lazer.
Morar na cidade, porém, não é perfeito. Como toda grande capital, há alguns problemas que devem ser levados em conta por quem deseja se aventurar por aqui.
Espero que tenha gostado do texto de hoje! Sentiu falta de alguma informação? Entre em contato que eu tentarei pesquisar sobre o assunto e escreverei algo aqui para o blog.
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